domingo, 15 de abril de 2012

Quando ele não é um príncipe encantado

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Ele é atencioso mas não enfrenta tempestades para encontrá-la. Mata baratas mas é alérgico a pernilongo. Apesar de esforçado, você já decidiu que a barriguinha dele não cabe na sua armadura de príncipe encantado. Ou será que o seu modelo é justo demais?

Era uma vez uma mulher de longos cabelos loiros (tingidos) e corpo esculpido (por horas diárias de academia) chamada Maryana Rios. Aos 27 anos, contabilizava mais de 200 telefones na agenda do celular, um diploma em fisioterapia e um emprego auxiliando jogadores de um time de futebol conhecido. Apesar dos inegáveis dotes, seu namoro mais longo durou três meses. “Eu me apaixono perdidamente, mas o relacionamento nunca é como eu esperava.” Por quê? No primeiro caso, o cara não se esforçou o suficiente. No segundo, não fazia surpresas. No terceiro, não era lá muito romântico. No quarto, era perfeitinho demais.
A história de Maryana é tão comum que ganhou até um grupo no Facebook. I Blame Disney for My High Expectation of Men (“Eu culpo a Disney por minha alta expectativa com os homens”, em tradução livre do inglês) tem mais de 167 mil membros. Ali, o que não falta é depoimento ressentido de mulheres que, apesar de buscarem o tão prometido príncipe encantado, só encontraram sapos ao longo do caminho. E o mais preocupante: inconscientemente, elas continuam procurando um herói para resgatá-las e colorir sua (já completa) vida. É difícil de acreditar, mas, se analisar bem, fácil de entender. “Na infância, os contos de fadas ajudam a criança a construir seus valores de bem e mal, felicidade, amor, amizade, autoridade etc. As meninas acreditam que sempre haverá um homem forte para protegê-las e poupá-las das dificuldades”, diz a psicóloga Sueli Castilho, de São Paulo. Até aí, tudo bem. Durante o crescimento, é natural essas garotas caírem na real, percebendo que o mundo não é o castelo da Cinderela, e amadurecerem. O problema é que algumas viveram tanto tempo com esse ideal de perfeição que, hoje, não admitem um defeito sequer nelas mesmas. Que dirá em um companheiro com quem terão que conviver o resto dos anos, não é mesmo? Resultado: acabam sozinhas — afinal, como ensina Raquel Sánchez Silva em seu livro Troco o Príncipe Encantado pelo Lobo Mau(Fontanar), a gente só é feliz no amor (e na vida!) quando desiste do trono de princesa submissa e vai atrás do que quer de verdade. Segure seu penteado, cara leitora. Chegou a hora de acertar as contas com a Branca de Neve, a Aurora, a Ariel..

Nascida para reinar

Se você nunca desejou um homem forte, atencioso e capaz de cometer loucuras de amor para conquistá-la, pode parar de ler esta matéria. Agora, se já quis ter alguém para trocar seu pneu em uma noite chuvosa, viajar mais de mil quilômetros só para vê-la no fim de semana e ainda massagear seus pés, certamente ouviu muitos contos de fadas antes de dormir. Não tem nada de errado nisso, desde que você não continue sonhando com o príncipe Felipe enquanto rola em sua cama vazia. “É preocupante observar a perpetuação da fantasia no comportamento de algumas mulheres. Elas querem o homem perfeito, capaz de suprir todas as suas carências”, analisa a psicoterapeuta Marilena Henriques Teixeira Netto, do Rio de Janeiro. Essa síndrome é tão frequente que tem até nome: complexo de Cinderela. Ela ataca mulheres bem-sucedidas que procuram um amor. No entanto, não pode ser qualquer um, não! Tem que ser um homem incrível, protetor, capaz de salvála de cartões de crédito estourados, chefes mal-humorados e buraquinhos de celulite. Racionalmente sabemos que esse rapaz não existe (e que, cá entre nós, nenhum homem fica bonito com calça justa azul-bebê), mas talvez, sem notar, estejamos projetando essa figura idealizada em cada candidato a namorado. “Aí, a expectativa acaba com o relacionamento, pois, quando percebemos que o sujeito é apenas humano, há frustração. O resultado é uma intensa troca de parceiros, pois é mais fácil manter a ilusão do que lidar com os defeitos”, diz Marilena.

Espelho rachado

Achar um companheiro que tenha todos os predicados necessários para virar namorado é difícil. Ao mesmo tempo, passar a vida sozinha também não é o final feliz sonhado pela maioria. “No século passado, lutamos por liberdade, mas nos esquecemos de deletar a necessidade de ser cuidada por um homem”, diz Sueli. Acabamos vivendo em um constante cabo de guerra. Por exemplo: você ama seu emprego, mas não acharia confortável poder trabalhar apenas por prazer, uma vez que todas as suas contas estão no débito automático de um príncipe? Ainda que tenha respondido “sim, sim, sim” à questão anterior, certamente não quer que o gato exerça nenhum tiquinho de poder sobre sua vida. E, mais cedo ou mais tarde, ele vai tentar, como conta a administradora Rosana Gomes, 27 anos. “Conheci o André na faculdade e namoramos por quatro anos. Na época em que decidimos nos casar, estava trabalhando em uma multinacional e fui convidada a passar seis meses em uma filial da empresa, na Argentina. Meu noivo detestou a notícia. Na hora, minha carreira virou um problema, pois ele também precisaria se sacrificar em nome do meu crescimento. Foi um momento difícil, mas, com o tempo, ele aceitou e me apoiou — ainda que a contragosto.”

Nascida para reinar

Se você nunca desejou um homem forte, atencioso e capaz de cometer loucuras de amor para conquistá-la, pode parar de ler esta matéria. Agora, se já quis ter alguém para trocar seu pneu em uma noite chuvosa, viajar mais de mil quilômetros só para vê-la no fim de semana e ainda massagear seus pés, certamente ouviu muitos contos de fadas antes de dormir. Não tem nada de errado nisso, desde que você não continue sonhando com o príncipe Felipe enquanto rola em sua cama vazia. “É preocupante observar a perpetuação da fantasia no comportamento de algumas mulheres. Elas querem o homem perfeito, capaz de suprir todas as suas carências”, analisa a psicoterapeuta Marilena Henriques Teixeira Netto, do Rio de Janeiro. Essa síndrome é tão frequente que tem até nome: complexo de Cinderela. Ela ataca mulheres bem-sucedidas que procuram um amor. No entanto, não pode ser qualquer um, não! Tem que ser um homem incrível, protetor, capaz de salvála de cartões de crédito estourados, chefes mal-humorados e buraquinhos de celulite. Racionalmente sabemos que esse rapaz não existe (e que, cá entre nós, nenhum homem fica bonito com calça justa azul-bebê), mas talvez, sem notar, estejamos projetando essa figura idealizada em cada candidato a namorado. “Aí, a expectativa acaba com o relacionamento, pois, quando percebemos que o sujeito é apenas humano, há frustração. O resultado é uma intensa troca de parceiros, pois é mais fácil manter a ilusão do que lidar com os defeitos”, diz Marilena.

Espelho rachado

Achar um companheiro que tenha todos os predicados necessários para virar namorado é difícil. Ao mesmo tempo, passar a vida sozinha também não é o final feliz sonhado pela maioria. “No século passado, lutamos por liberdade, mas nos esquecemos de deletar a necessidade de ser cuidada por um homem”, diz Sueli. Acabamos vivendo em um constante cabo de guerra. Por exemplo: você ama seu emprego, mas não acharia confortável poder trabalhar apenas por prazer, uma vez que todas as suas contas estão no débito automático de um príncipe? Ainda que tenha respondido “sim, sim, sim” à questão anterior, certamente não quer que o gato exerça nenhum tiquinho de poder sobre sua vida. E, mais cedo ou mais tarde, ele vai tentar, como conta a administradora Rosana Gomes, 27 anos. “Conheci o André na faculdade e namoramos por quatro anos. Na época em que decidimos nos casar, estava trabalhando em uma multinacional e fui convidada a passar seis meses em uma filial da empresa, na Argentina. Meu noivo detestou a notícia. Na hora, minha carreira virou um problema, pois ele também precisaria se sacrificar em nome do meu crescimento. Foi um momento difícil, mas, com o tempo, ele aceitou e me apoiou — ainda que a contragosto.”

Quebrando o encanto

Ninguém nunca contou o que Branca de Neve fez depois de ser feliz para sempre. Provavelmente, ela terminou cuidando de vários filhos e limpando a casa de um marido preguiçoso e viciado em corridas de cavalo, como sugere a fotógrafa canadense Dina Goldstein em seu ensaio Fallen Princesses. De fato, se nossas doces princesas fossem reais, a rotina delas não seria lá um conto de fadas. Isso porque, na teoria, todo príncipe é encantado. Mas no dia a dia... É o caso daquele casal que se conheceu na balada e sempre adorou sair junto. Um dia, o moço resolve levar uma rotina mais sossegada e dispensar o bar no meio da semana. O problema é que a namorada a-d-o-r-a a vida noturna, mas também não está mais a fim de sair sozinha. E aí? Será que deve substituir o companheiro ou ceder um pouquinho, afinal até ela anda sofrendo com o sono atrasado? “A mágica é bemvinda, mas quebrá-la faz parte da vida”, diz Marilena. Por mais dolorido que seja enfrentar a imperfeição, sempre vale a pena. Afinal, só entre nós: você não teria nenhum desafio com um homem que acatasse as suas vontades. Além do mais, quem precisa de um sapatinho de cristal quando pode ir ao shopping e comprar um par cheio de Swarovski?


Seu final feliz

Ainda no século passado, a psicanalista alemã Marie-Louise von Franz, autora do livro O Feminino no Conto de Fadas (Vozes), já alertava sobre as mudanças do papel da mulher e como elas também atingem os homens. Os coitados até tentam, mas não têm ideia de como agir perante essa princesa moderna, que é tão forte e determinada e, ao mesmo tempo, cheia de sonhos e esperanças. Afinal, o que será que ela quer? Talvez nem mesmo a gente saiba. Mas ajudaria se começássemos a rever o tipo de companheiro que procuramos. “Para construir uma relação duradoura, é essencial ter paciência e desmitificar o parceiro, percebendo que ele tem defeitos e qualidades como qualquer ser humano”, aconselha Sueli. Acredite, amiga, o mundo está lotado de príncipes prontos para ser desencantados. E, vamos combinar, não existe melhor jeito de fazer isso do que beijando um sapo.

O encanto está fora de moda

Filmes de princesa não fazem mais sucesso — quando ressuscitaram a Rapunzel, mudaram o nome da película para Enrolados. Acreditaram que, assim, se distanciariam da ideia da loira sofredora (vale lembrar que a versão 2011 da garota manda e desmanda em seu príncipe e que, apesar de ter seus momentos de carência, sacode a poeira da barra do vestido e dá a volta por cima). O maior conto de fadas atual é o desconstruído Shrek — e Fiona não se parece em nada com o antigo ideal de donzela. “É normal os contos de fadas se adequarem à nova realidade”, diz Sueli. É ela que faz crianças desejarem ser a bruxa má e telespectadores vibrarem com as vilãs das novelas. “As tentativas de conseguir o que se quer, ainda que de forma desonesta, são mais aceitas e bem-vistas”, completa Marilena.

Lições certas dos contos de fadas

Apesar de submissas, as princesas também acertaram algumas vezes durante as histórias. E você pode aprender com elas.
Branca de Neve
Depois de dormir em camas de desconhecidos, conheceu sete simpáticos anões. Despertar em colchão estranho, às vezes, pode ser uma surpresa agradável.
Bela
Ela descobriu um homem lindo e doce por trás do rosto assustador de Fera. Provando que nem sempre a primeira impressão é a mais importante. E, contrariando o ditado, nem a que fica.
Rapunzel
Do alto da torre, a garota jogava suas tranças para que o príncipe pudesse escalá-la. Se quiser que um homem se aproxime, precisa ajudá-lo a chegar até você.

FONTE: abril.com.br

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