sexta-feira, 27 de junho de 2014

O que fazer quando ele nunca discute o relacionamento?

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Meu namorado não gosta de DR. Mas calma, vou explicar. Também não gosto. Não sou uma dessas mulheres que abrem o berreiro e a caixa de ferramentas pra debater a essência do amor apenas porque o companheiro errou a virada da panqueca…
Não, nada disso. Eu guardo os momentos de debater o relacionamento pra quando acho que eles são necessários, quando eles são fundamentais pra gente fazer aquele esforço de mudar, de se ajustar, de afinar a convivência.
Acontece que mesmo nesses raros momentos, quando é fundamental que a gente fale sobre as coisas que incomodam, meu namorado simplesmente se cala. E pior: vai embora, se afasta. Quando o pressiono, no máximo arranco um ‘tá bom, já te ouvi’.
Ou seja, vivemos um relacionamento em que eu falo e ele escuta. Mas tudo da pior maneira. Às vezes me sinto perdida. Não faço ideia do que ele sente nessas horas. Ou se ele entendeu o motivo da briga. Venho percebendo que repetimos as mesmas brigas. Eu, de um lado, falando o de sempre. Ele, de outro, no silêncio de sempre. E o pior: tenho certeza de que eu acumulo essa questão sobre a qual não debatemos. Essa falta de diálogo me consome. É como se diante do poderoso silêncio dele, eu não tivesse o que fazer; e a questão que me incomodava continuasse ali dentro de mim. Não dá outra: nos dias seguintes a essas discussões silenciosas, em que só eu falo, a falta de voz dele causa em mim extremo mau humor.
O ponto, João, é que eu preciso resolver as coisas sempre na hora. Sou assim. Odeio problemas que se repetem. E mais ainda: me machucam os problemas que não são resolvidos. Acima disso tudo, acredito no diálogo.
Acontece que meu namorado é só um exemplo extremado do que costumo encontrar nos homens. Já tive alguns namoros e muitos casos. E é impressionante: o que acontece com vocês, homens? Que medo é esse de falar o que sentem? Que pavor é esse de dizer aquilo que incomoda, de ouvir e de devolver sua opinião sobre a relação?
Ou seja, já nem me preocupo tanto com o meu namorado. Me preocupo mais é com vocês todos! Por que vocês gostam tanto de silêncio? Que medo é esse? E tem solução? João, te peço uma resposta, já que você é a minha grande esperança na ala masculina. Mas curto e grosso: estou errada? E se não estiver, por que vocês são assim? O que eu faço?
UMA RESPOSTA
Meninas, acho que foi em 1600 e bolinha. E acho que foi o Descartes. E se eu acertei a data e o autor, vejamos se acerto a frase.
Eu dizia que em 1600 e bolinha o Descartes escreveu duas palavrinhas sobre a vida a dois. Disse ele: “Odiar é fácil. Difícil é amar”.
Mas quero resumir essa linda ideia.
A resposta ao longo e-mail da nossa amiga aí de cima é mais curta e uma só: “Difícil é amar”.
Concordo com ela. Homens têm mesmo uma dificuldade montanhesa de dividir aquilo que vai n’alma. Mas discordo dela: não acho que as mulheres sejam tão diferentes. No fim, na hora de soltar aquilo que vai por dentro, os dois lados da humanidade e do relacionamento esbarram numa insolúvel e fundamentalíssima pedra: o outro. O outro nunca é, nunca será aquilo que queremos.
E só porque vivemos nessa ilusão de que o outro possa um dia mudar – por conta das marteladas que damos durante as DRs; marteladas que serviriam pra modelar esse grande granito que é o parceiro –, só porque acreditamos que um dia faremos o outro a imagem e semelhança de nossos sonhos; por tudo isso que eu digo: amar é dureza.
Mas venha comigo e vamos repetir tudo isso em mais um parágrafo: num mundo ideal, o amor seria você e ele; ele sendo aquilo que você sempre sonhou, aquele que faz e pensa e entende e percebe tudo que você faz, pensa, entende e sonha.
Esse mundo ideal é uma chatice.
A vida aqui no térreo é mais torta e mais interessante. Por isso, mais dolorosa.
Meninas, meninas, vocês esquecem duas coisas: 1, que o amor tem a única e maravilhosa função de conectar o nascimento à morte. E 2, que o amor tem a única e maravilhosa função de conectar as pessoas. É o que faz a gente andar, é o que permite a gente trabalhar durante a Copa, é o que, aliás, causa uma Copa.
Amor.
Amor é incompleto. Sim, sim: percebam. O amor é incompletude. É um lindo mais ou menos. E é desacordo. Encontre aí, aqui ou ali um amor perfeito, um namorado que fale sempre tudo aquilo que você quer ouvir e cale no exato momento em que você cansou, e eu te darei uma figurinha da Copa.
Não existe.
Repito, repito: o amor só é tudo isso quando ele é mais ou menos.
Essa coisa de esperar um sujeito que seja perfeito, ou que se aproxime disso, é o que mata o amor. Ah, meninas, o amor é mesmo tão difícil…

OUTRA RESPOSTA
Acho que a graça do amor mora na tentativa. Na tentativa de fazer aquilo ali ser melhor. O amor existe enquanto há vontade e alegria e tristeza nessa tentativa. Enquanto há tentativa. Quando os dois num relacionamento cansam, quando nessa busca por melhorar a si e ao outro esbarra numa tristeza, numa falta de paciência, num mau humor, num horizonte nublado, é hora de perceber, de aceitar, de agir: o amor acabou, e se não acabou, porque o amor não acaba, ele se dissipa e se torna outras coisas…
Pera, vou melhorar o raciocínio.
Quero dizer que o amor não faz sentido. O amor existe quando ele confunde. Mas confunde porque nele moram as coisas boas e as ruins. E assim, havendo confusão, o bom e o ruim, há amor.
Quando surge a certeza a dois, o amor acabou. Porque, reparem: só temos certeza dentro de um casal quando as coisas estão terríveis, insuportáveis. Só temos segurança quando trememos de tristeza. Alguém dirá: “mentira! Mentira, João! Porque toda vez em que sofri num relacionamento, pouco antes de terminar, eu tinha tudo, menos segurança. Tudo era complicado, tudo era tristeza, aquilo que poderia ser e não foi”.
E se alguém disser isso, meninas, percebam a sabedoria desse alguém! Ela mesma respondeu tudo.
Vejam com calma o sofrimento do fim de um amor. No fim de um amor, somos todos insegurança, dor, raiva, arrependimento e dúvidas. Mas vejam como nisso tudo mora, no fim, nosso único momento de estabilidade: estamos sempre ruins, mal, pra baixo.
Fui claro?
Não, né? Mas não desisto nunca.
Quero dizer que o amor só existe quando há altos e baixos.
Quero dizer que a vida só de altos não existe.
Quero dizer que a vida, quando está sempre em baixa, é a vida sem amor.
Todo grande amor traz consigo medo, incertezas, alegrias em revezamento com tristezas.
A RESPOSTA
A leitora aí no topo deste montanhoso post quer saber: todo homem é assim? Por que nós gostamos tanto de silêncio? Que medo é esse? E tem solução? O que fazer?
Não sei.
Mas acho que você sabe.
A calmaria de um casal que não fala, que não briga, que não faz as pazes, que não tem uma ciuminho, que não ri junto, que não boceja junto, que não reveza dias de cueca bege com noites de espartilho; quem não tem isso, não ama mais.
Vocês têm isso?
A pergunta da leitora merece uma resposta: não sei. Você que sabe.
Não sei se homens não gostam de DRs. Não sei se o silêncio é a grande solução. Não sei se resolver os problemas em debates intermináveis resolvem. Não sei.
Sei que falar às vezes, calar às vezes. Sei que odiar às vezes, e amar quase sempre. Sei que acreditar que o outro pode mudar porque o outro te faz acreditar nisso. Sei que tudo isso aí, e só isso aí, são garantia de amor.
O resto, não sei.



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