sexta-feira, 29 de maio de 2015

Amor e Whatsapp: traição ou desconfiança?

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A esposa: – amor, estamos casados há sete anos; quero uma prova de amor.
O marido: – claro querida, pode dizer.
Ela: – quero que você lute com um leão e vença, só assim provará que me ama.
Ele: – meu amor, você está louca? Não se vence um leão. Não tem outro modo de provar?
A mulher: – tem. Mostre-me o seu Whatsapp.
O marido: – está bom! Traga logo esse maldito leão!!!

Deveria haver uma simetria entre o desconfiar e o trair efetivo. Mas parece que na atualidade de redes sociais e aplicativos de cochichos coisas foram rompidas.
Todo mundo sempre aprendeu que cochichar é feio e falta de educação. Mas o que é um aplicativo de conversação secreta na frente de todo mundo? Pois é. Bem vindo à era do cochicho digital.
Ninguém cochicha mais encostando a boca no ouvido do outro. Seria repreendido. Mas ficar no Whatsapp em público parece estar convencionado que não é cochichar. Mas é. Claro que é. Ali alguém pode estar digitando coisas como: estou com aquele chefe idiota do trabalho que não se enxerga. Tudo impunemente.
Paqueras, encantadores de ego, elogiadores de plantão, adoram o programinha. Periguetes, mocreias e sirigaitas também. Isso sem excluir quase todo o restante do planeta. E paquera oculta ninguém pode saber. Só o fiel companheiro. Ele, o Whatsapp. Aquele aplicativo que todo mundo jura que é só para conversar com amigos e família.
A visão do Watsapp reduzindo muita coisa à paquera, como sugeriria Nelson Rodrigues, o ‘tarado brasileiro’, pode ser radical. Mas não é falsa. Pode não existir a traição efetiva, mas quem cochicha autoriza desconfianças. Ou uma ligeira dúvida.
Quando tudo é às claras – mas às claras, não seletivamente às claras-, a coisa vai bem. Mas muita gente mantém segredos, códigos etc. Talvez por isso a internet esteja ‘separando’ tantos casais.
Não se vai dizer que numa relação a dois tudo precise ser mostrado ao outro. Quando há confiança ninguém precisa mostrar nada. Confia-se e ponto final. Mas isto cada vez mais vem deixando de ser a regra.
Não há simetria entre o trair efetivo e o desconfiar. As oportunidades para trair continuam menores do que para se desconfiar. Na traição ainda há travas sociais sérias. Mas para se desconfiar basta uma dúvida, um mal entendido.
Traição em épocas de internet pode não ser mais apenas o contato físico. Mas a doce entrega de sentimento por meio de um aplicativo de conversação. O amor, verdadeiro amor, consegue transitar pelos programas de internet e chegar ao outro lado. Inteiro e denso.
O Whatsapp vem alterando padrões. De educação e ética. É indiscutivelmente um aplicativo maravilhoso. Principalmente em sua ‘gratuidade’ contra a sempre desonesta telefonia mundial.
Mas com ele veio o novo conceito de cochicho. Péssimo. Pessoas desestruturadas e viciadas simplesmente não conseguem mais conversar fisicamente com o outro. Só por digitação. É também o tempo do egoísmo, do ensimesmamento, do isolacionismo pessoal. Cada um em seu mundo telefônico andando nas ruas com a cabeça enfiada no celular.
Esta prática é levada para relacionamentos. Mas também para as camas dos casais, os motéis dos apaixonados, os casamentos, os enterros e reuniões. E sempre por meio de cochicho, conversas secretas e escondidas de quem apenas vê que alguém digita. Mas nunca saberá o que é. Ou com quem é.
O ser humano não ‘acabou’ deste jeito, contestariam neoeticos e neomoralistas. Mas as leituras possíveis no mundo pós-ético mostram uma realidade carcomida. Relacionamentos amorosos poderão ser previamente ‘combinados’ como reuniões de negócio: com ou sem Whatsapp. Isso pode ser um exagero e um atraso. Mas se não se quer disparar a desconfiança no outro, só há um caminho: a transparência.
A tecnologia nova é maravilhosa. Mas o uso dela exigirá uma ética também nova. Não adianta mais a mera expressão de espanto à indagação sobre o cochichar no Whatsapp. O transparente mostra sem medo. Ou melhor: nunca esconde.
A traição ainda é algo mais ‘difícil’. Enquanto isso, a desconfiança ou a dúvida podem ser muito mais comuns. Qualquer pessoa segura, ao ler um texto sobre desconfiança pode se questionar, de passagem, se não seria o caso de desconfiar. Ou abrir alguma dúvida.
É claro que a vida saudável não se apoia em dúvidas ou desconfianças. Muito menos em traições. Mas como existe a piada do início do texto, sabe-se que com a forma cochichada de conversas, onde há fumaça pode haver fogo.
Talvez seja melhor ler Nelson Rodrigues: ‘Entre o desquite e a traição, é preferível a traição, mil vezes a traição’. 


observatoriogeral

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