terça-feira, 9 de abril de 2013

O Sentimento de Culpa

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A culpa é tão antiga quanto à história da humanidade, a tradição religiosa, as ciências humanas e sociais, mas também, a literatura, a música, os roteiros de filmes e programas televisivos, a culpa aparece como algo negativo, punitivo e de menos valia.
A sensação de sentirmos culpados é como um filme reprisando justamente a cena mais apavorante, uma dor dilacerando a alma trazendo lembranças de repressões, dúvidas, impotência e o pensamento idealizador de que tudo poderia ser diferente "se" tivesse outra chance.
Normalmente ela surge quando acreditamos estar em pecado, violamos regras, cometemos uma falta grave, somos omissos, quando frustramos nossas ou as expectativas alheias. Por isso, tem sido um assunto frequente na terapia ou nas conversas informais capaz de evocar muita angústia e conflitos. Geralmente estamos propícios a perguntar-nos, de quem é a culpa? Pais, filhos, educadores, empregados e empregadores, políticos, autoridades e religiosos passam tempo persuadidos a encontrar o "culpado", muito mais do que enfrentar e encontrar a solução, responsabilidades e questionar as verdades absolutas que nortearam a sociedade por anos a fio, mas que hoje passam por profundas mudanças.
Foram anos de culpa pela perda do paraíso, pela opção e necessidade da mulher de trabalhar fora do lar deixando os filhos em creches, com babás ou familiares. Pela busca do prazer sexual antes relegado a procriação e negado pela falta de conhecimento do próprio corpo. Pelo rompimento dos paradigmas de uma educação conservadora e punitiva. Pela mudança gradativa das relações de trabalho exigindo um ambiente mais humano, digno e de melhores condições de salário. Pela degradação do meio ambiente. Pela direito a orientação sexual homo afetiva. Estes poucos exemplos fazem parte de uma infinidade de transformações que nos levarão a novos caminhos e revisão dos atuais.
A única resposta plausível é que continuaremos inseguros e conseqüentemente mais ansiosos ao tentarmos acertar num mundo incerto. Colocar a culpa no centro da questão será um obstáculo ao crescimento e a auto-realização. Quem mais sofre com os sentimentos de culpa são pessoas em estado de desequilíbrio físico e emocional. Na depressão, adicção a qualquer substância psicoativa, nos transtornos de personalidade, alimentar, ansiedade, borderline, obsessiva compulsiva, e psicopatias gerais, são pessoas mais sensíveis e vulneráveis a crítica, nutrem um alto grau de exigência, são demasiadamente idealizadoras, irritadiças, impulsivas, inseguras e necessitam de aceitação a todo custo, para provar o seu valor enquanto pessoa. E quando são contrariadas ou algo não sai como esperado, dizem e fazem coisas intempestivas, deixando um rastro de dor e arrependimento, mas ao recobrar a lucidez, sente-se remoídas de dor e culpa.
Outro dia uma cliente me disse: "quando eu era uma pessoa doente era cega emocionalmente e não tinha noção do mal que fazia a mim e aos outros, mas com o conhecimento das minhas emoções passei a exigir menos, ter mais cautela, menos amargura e praticando o auto perdão. Aos poucos fui reparando o mal que fiz as pessoas, especialmente a mim mesma, pois ninguém escolhe ficar doente".  
Mas até chegar neste ponto, normalmente, o modo de aliviar a dor é por meio do autoflagelo emocional, alguns até na forma física e corporal, impingindo cortes, queimaduras, machucados ou tentativa de suicídio, buscam a expiação da própria consciência que as condena. São sabotagens diárias que varia desde abandonar momentaneamente algo que dê prazer, recusar propostas interessantes, voltar a fumar, comer compulsivamente, ingerir drogas após dias abstinente, se botar em enrascadas no trabalho, nos relacionamentos amorosos destrutivos, se traindo com padrões dolorosos repetitivos. Fazendo de tudo para se encaixar no papel de "pobre coitada" que não merece amor, alegria, paz, lazer e plenitude.
Primeiro, será preciso retirar a lente de aumento, nem sempre o que cometemos é tão grave que mereça tamanho sofrimento. Segundo, enquanto vivemos no passado ou no futuro perdemos a chance de gozar e vivenciar as requisições do presente. Pois, será somente no dia de hoje que terei acesso e poderei oferecer o que tenho de melhor, quem sabe reparando um mal entendido, exercitando a paciência quando não há chances de retratação ou quando não há condições de fazer nem uma coisa nem outra.
Boss, um grande escritor existencialista, diz que a culpa não deveria ser vista como uma carga de opressão, pois ao sermos lançados no mundo temos um "chamado e uma advertência para cumprir a missão humana de guardião e pastor". Isso quer dizer que somos seres que o mundo precisa, o sentimento de culpa advém deste "ficar-a-dever". No meu entendimento, a culpa sempre aparecerá quando abrimos mão da nossa liberdade de escolha.
E, podemos escolher se fechar no esconderijo que leve a renúncia da consciência – a culpa é do "outro", mantendo-se nas lamurias e perseguições. Ou aprender a lidar com este sentimento capaz de interferir nas relações e na maneira como nos enxergamos assumindo o nosso lugar no mundo, vivenciando com qualidade, nossas emoções, possibilidades e potencial interior.
A seguir sugiro filmes que retratam o Sentimento de Culpa:  
 - Caché. Ano: 2005, França, Alemanha, Austrália e Itália, direção de Michael Haneke e protagonizado por Daniel Auteil e Juliette Binoche. 
 - O caçador de Pipas ou o livro do autor Khaled Hosseini. Ano: 2007, Estados Unidos, direção de Marc Forster, protagonizado por Khalid Abdalla e Atossa Leoni.
 - Dúvida. Ano 2008. Estados Unidos, direção de John Patrick Shanley, protagonizado por Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. Também sugiro a leitura do mito de Édipo e Jocasta - tragédia grega "Édipo Rei de Sófocles, do século V a.C", disponível em muitos sites da internet.
Referência Bibliográfica:
BOSS, Medard. "Angústia, Culpa e Libertação. 2ª Ed. São Paulo, Duas Cidades, 1977. P. 38-40.

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