sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Como recomeçar com a mesma pessoa depois de uma traição? Tem jeito?

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Meninas, não sei se vocês sabem, mas eu sei um bocadinho assim de italiano.
Uma vez, eu fui a Siena. Botem Siena aí no Google. Vejam as fotos.
Uma lindeza, um negócio assim como se o homem pudesse criar algo em que até a natureza em derredor vê que aquilo é bom, aceita e assume. Veja as pombinhas de Viena, que são como as de Veneza, domesticadas sabe-se lá por quem ou o que, se pelo milhos dos turistas ou pela beleza do entorno O fato é que as pombinhas em Siena são um pouco turistas também. Elas ficam lá, convivendo numa tranquilidade eterna com os chutes no ar que os humanos dão para espantá-las. É mesmo um pedaço de terra sem rancor..
Em Siena, há uma praça central.
Parece um ralo. Mas quando digo ralo, digo um ralo gigante, do tamanho de uma praça. E um ralo lindo, bonito como uma praça numa dessas cidadezinhas da dourada Toscana, como é Siena.
O negócio, meninas, é que o negócio ali na praça parece mesmo um ralo; um imenso declive circular que, imagino, num dia de chuva levaria a água toda por todas aquelas canaletinhas que riscam o solo da praça de Siena e se juntam todas ali na frente.
Mas como não choveu em Siena, não vi nada disso.
Vi outra coisa.

UM PEDIDO ESTRANHO
Bom, em Siena, uns meses atrás, fui tomar um sorvete.
Vocês devem saber disso, mas se não sabem, saibam: há brasileiro em qualquer lugar a que você for. Se caísse a tal chuva torrencial ali na praça de Siena, e fosse uma água suficiente para arrastar as gentes que sentam por ali em Siena, te juro que uns treze brasileiros se encontrariam ali no meu imaginário montinho humano de Siena.
Porque como há brasileiros por aí, meninas!
Nesse dia mesmo, em Siena, encontrei um casal.
Esse casal, ouvindo o meu português (eu estava ali com uma amiga), veio falar comigo. Ficamos amigados os quatro. E passamos a tarde em prosa.
Uma dada hora, fui com o rapaz do casal pegar um refrigerante para o resto do grupo. E ali ele me contou a sua história.
“… aí, João, finalmente a gente decidiu viajar aqui pra Itália como uma espécie de segunda lua-de-mel. É bacana, não é, mas tou pisando em ovos. É engraçado como as mulheres gostam dessas coisas. Por mim, era uma viagem só. Normal. Mas depois de tudo o que te contei, ela quer grandes gestos, uma grande aventura, algo que faça a gente fingir que é tudo de novo, tudo novo…”
Meninas, eu não sei se com vocês é assim, mas comigo às vezes é: estranhos viram amigos com dois sorvetes e um caminhada. Viram amigos e confidentes. Naquele momento, o meu novo amigo e confidente tinha atravessado ao meu lado uma bola de flocos e umas duas de morango. Comemos as nossas casquinhas e já em seguida, embriagado de açúcar, o meu novo colega brasileiro em Siena se pôs a me contar tudo de sua vida antes de Siena. Os motivos de estar ali, em Siena. Ao final, ele queria uma opinião em Siena,de um estranho que era eu. Mas ela, a opinião, viria em italiano.

UMA TRAIÇÃO
O meu novo amigo em Siena contava que viajou à Itália a pedido da esposa, que ele não sabe mais se diz que é esposa, namorado ou outra coisa. O que aconteceu foi o seguinte: estavam casados. Pareciam se amar. Lá pelo terceiro ano, o amor dava a impressão de continuar, mas mais fraquejante, envolto em umas briguinhas bestas.
O sexo, semanal, já era mais raro que a ida à academia ou o futebol de quarta-feira. Ele queria tentar resolver, mas não conseguia. Estava triste e sentindo que algo estava errado. Passou a ter uns desejos mais intensos pelas mulheres que via no trabalho, na noite. Mas me disse que se segurava.
Até que descobriu a coisa toda, mais ou menos como um Euclides da Cunha. A coisa toda começou e acabou com um bilhetinho via e-mail. Uma conhecida, amiga do casal, contou: ele estava sendo traído. E fazia tempo. E a traição já era quase um namoro paralelo que a esposa dele mantinha com um sujeito que ele não conhecia.
O que fazer?
Ele fez a primeira coisa que passou na cuca: chamou a esposa às falas. E falou tudo. Brigou e xingou.
Separaram.
Iniciaram o processo do desquite. Ele foi à lama. Virou um traste. Ela seguia com o amante, agora meio que oficial, mas sempre dava um jeito de estar presente na vida dele.
Ele descobria tudo isso nas reuniões para partilhar os bens comuns, por exemplo.
Ou em telefonemas arrependidos.
Ou em e-mails desesperados. Dele e dela.
Marcavam encontros pra dividir as posses.
Nesses encontros, era raiva e amorzinho.
Transavam. Como antes. Como antes de tudo. Como no começo. Ou talvez fosse diferente. Eles transavam já se conhecendo, com uma carga de raiva e tesão e ousadia e amor e mais raiva e esperança. Ele era quase como o amante dela, agora.
Mas o rasgo estava lá. Sempre lá.
Ele se dizia decidido a nunca mais ver. E a odiar.
Acabou deixando aberta uma brecha.
No fim, topou, meio constrangido, a volta.
Voltaram. Prometeram a seus espelhos e a cada um recomeço com respeito, com o amor acima de tudo. Que nada mais daquilo aconteceria.
Disse o meu amigo de Siena que os primeiros dias foram ótimos e horríveis ao mesmo tempo. Ele se sentia sempre estranho.
Mas tudo tinha sexo, ousadia e emoção.
E tinha também a vergonha da família e dos amigos
Mas engoliu tudo, de frente, e foi lá salvar o romance.
Que ele nem sabe, de verdade, se ainda é romance ou o que é.
Mas isso aí ele não me disse. Isso eu entendi, filtrando as palavras dele: o meu novo amigo não sabe muito bem por que voltou: se amor, se dor de cabeça, se por não saber perder.
Daí ele inventou a viagem. Segundo esse meu novo amigo, “era só uma viagem, mas sabe como é, né: essas grandiloquências de mulher para fazer tudo voltar a ser o que era. É jantar romântico, andar de cavalo, ver pôr-do-sol, tomar vinho, comer queijo. Um novo começo. Mas tem novo começo? Tem futuro isso?”
Ele perguntou para ele mesmo, mas de alguma forma, também pra mim.
E eu pensei se haveria futuro depois de uma grande ou de uma pequena traição. E sobre essa coisa de não saber deixar ir o parceiro quando o parceiro não está mais lá.
Mas antes que eu pudesse responder, um italiano respondeu.

UMA RESPOSTA ITALIANA
Meninas, vocês conhecem os italianos?
Se conhecem o brasileiro, vocês conhecem o italiano. São parecidos.
Os italianos são assim como a gente, não todos, mas muitos:
Eles viram irmãos em dois segundos.
O italiano ali, ouvindo a nossa conversa, entrou na conversa já como irmão. A gente não imaginava que ele fosse entender as palavras que a gente dizia, e daí falou como se ele fosse mais uma estátua italiana em forma de gente, e não uma gente. Mas ele entendia o português. Ele entendeu tudo. E queria falar. Falou. Em italiano.
Disse o seguinte, e eu traduzi:
“A verdade, meu amigo, a verdade é que você criou um purgatório, um pós-morte. Se vai sair daí pra cima ou pra baixo, não sei. A verdade, meu amigo, é que o seu amor já era. Nunca vai passar essa dor que você sofreu e disse agora há pouco que lembra. A imagem que você tem de si e dela não serão as mesmas. Isso, com o tempo, vai voltar em briga. Mas…
Mas também não concordo quando você diz que as mulheres gostam dessas viagens grandes. Algumas sim, algumas não, mas o negócio é que ela propôs e você veio. Ou foi o contrário? Enfim, você também topou. E veio.
A verdade, meu amigo, é que, tudo bem: sobre a traição, você tem razão. Coisa horrível, tristíssima, dolorida. Mas tudo o que veio depois disso também está na sua conta. Não a culpe pelo que vier depois disso. Assuma. Os motivos para partir eram todos teus. Você não quis. Você topou a reaproximação, as transas com raiva e amor, a volta, o engolir da vergonha. Tudo isso também é seu. A partir de agora, a culpa não é mais só dela. Sei que é difícil deixar morrer um amor quando a gente é o traído. Que, diante de uma traição, tudo aquilo que estava morto em nós volta com fogo dobrado: esquecemos que não sentíamos nada e, do nada, reescrevemos o passado dizendo que aquilo era um absurdo, como ela poderia ter feito isso, ‘sempre fui fiel e bom pra ela. Eu a amava’. E quase sempre a gente já não amava coisa nenhuma. Empurrávamos com a barriga.
Ela errou? Completamente. Ela matou a antiga relação? Com certeza. O que vocês estão fazendo agora? Testando essa fé humana no milagre de um novo amor que surge de um velho amor.
Se dá certo? Não sei, quem é que sabe? Você não sabe, eu não sei, ela não sabe, o seu amigo João aqui não sabe. O que eu sei é que o que vocês tinham antes acabou. Talvez renasça. Não vai ser igual. A imagem do passado sempre existirá. É como se vocês tivesse feito uma regressão, lembrando que foram inimigos figadais numa outra vida, ou que as famílias eram inimigas azedíssimas e que tivessem que vencer isso tudo para viver um amor.
Se vocês vão realmente se apaixonar, eu não sei. Talvez vocês estejam apaixonados. Talvez não. A viagem não vai resolver nada. É um simbolismo murcho. Mas quem sabe? Vir a Viena, esta beleza toda aqui a volta… E o que muda quando voltar? Quando a primeira briga romper?
Somos o que somos.
Mas também mudamos.
Eu acho, meu amigo brasileiro, que se você sente que é isso, faça isso. Siga em frente. A vida é uma só. E mesmo errar quinhentas vezes cabe no viver uma só vez.
Tente aprender com o que a vida lhe deu: sinta a partir de agora – porque agora você está preparado – se esse casamento, se essa amor tem conserto. E se sentir que não, tente fazer diferente e pular fora e ficar muito longe e começar de novo, com outra ou outras.
Mas também se permita a perdoar, se é isso que você sente que deve fazer e se sente que é o que ela quer de coração. Certeza ninguém tem. Escute os amigos, mas não tenha vergonha deles.
No fim de tudo, todo mundo traiu e foi traído. No fim de tudo, todo mundo conta a melhor história possível para ser protagonista de si mesmo, pra ser herói de si mesmo. O amor é muito complicado… Vai lá e volta pro seu grupo.
E tenha uma boa vida, seja lá como ela for, meu amigo…”
E assim, o italiano calou – e eu, sem nada a acrescentar, calo também.


  • J. ANTÔNIO

    Meu nome é J. Antonio e sou um amador. Jogador de futebol amador, jornalista amador e poeta amador. Frequento duas academias: a de Letras e a do bairro. Na última, convivo e suo ao lado de halteres e halterofilistas amadores. E ao lado de meninas, que brincam de fuzilar gordurinhas, todas lindinhas, molhadas e com calça fusô (minha leitora: é 'fusô' ou 'fuseau' o nome da calça? Eu tenho essa dúvida). Mas dizia que sou poeta e malhador. Aos fins de semana, gosto de correr e comer. Sou bruto e macho, mas sensível. Choro escondido – e ó, se um amigo me perguntar, eu nego. Eu nego! Mas sim. Quando a coisa aperta, quando a vergonha afrouxa, ou quando uma de vocês, mulheres, me machuca, eu choro. É assim desde que nasci. Há 30 anos. REVISTA MARIE CLAIRE

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