segunda-feira, 5 de maio de 2014

Por que a gente insiste em relacionamentos que já não existe?

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Dessa montanha de palavras, pesco hoje as interrogações não escritas. São interrogações escondidas dentro de outras histórias. Como se a leitora não ousasse dizer a si mesma o que ela realmente quer perguntar. São, assim, umas interrogações branquinhas, sutis, mas sempre um tanto desesperadas. São umas suplicazinhas assim, descabeladas, como se a cada interrogação que me atiram eu tivesse aqui no bolso uma exclamação para dar, vender e aliviar.
Em resumo, elas me pedem soluções de problemas que elas não querem admitir.
Mas temos um feriado aí pela frente, pelo meio, ou por trás – quando é que você está lendo isto?
E como feriado é tempo de gazetear a mente, eu vou fazer como algumas de vocês fazem. Vou responder sem responder. Vou dar exemplos. E ao final, vamos tocar a superfície de um problema profundo: como terminar um amor? Ou melhor, como perceber que um amor acabou?

EVIDÊNCIAS
Vinha dizendo lá em cima que recebo muitas cartas. Algumas cartas são curiosas. Separo aqui as que trazem um desespero e um desejo de salvação. Essas leitoras querem uma luz num momento de escuridão. Dão milhões de voltas, me contam os casos mais banais ou os mais impressionantes. Ao cabo, dizem: “João, o que eu faço?”
Uma leitora, por exemplo, diz que o namoro está sem sal. Quer dicas para apimentá-lo. Mas gasta umas catorze linhas listando coisas que ele faz e que estafam a paciência dela. Reclama da cueca furada e conta que às vezes ele não toma banho. Narra como uma vez, buscando a quentura que o sexo promove, baixou as calças do rapaz. Ela queria lhe dedicar uma “bela mamada”. Mas ao aproximar as narinas da virilha do moço, as narinas encontraram uma zona de perigo e desespero. Ele estava fedido ali. E ela não conseguiu. Mais para frente, no e-mail, a moça conta que o rapaz pratica barulhos gasosos em qualquer lugar e reclama dessa intimidade exagerada. Então, ela arremata a carta perguntando o clássico: “João, o que fazer para salvar essa relação?”
Outra leitora escreve e diz que o namorado é quieto demais. A seguinte conta que o sujeito exagera nas piadas, dá apelidos que ele sabe que ela não gosta. Uma garota me descreve como pensa no companheiro: “um fanático por futebol, um desleixado no romantismo”. Outra implica porque os dois não torcem pelo mesmo time.
Tenho uma amiga, meninas, que já naufragou um relacionamento porque não havia problema algum: o amor era um doce marasmo, sem brigas. E porque ela navegava em águas inéditas e serenas, algo deveria estar errado. Ou melhor, algo só poderia estar errado. E, assim, ela, acostumada aos amores doloridos; ela, que sempre sonhou com um amor assim, plácido, com cara de domingo; ela, meninas, achou que essa coisa aí não existia. Decidiu se antecipar ao errado. E simplesmente começou a implicar com o namorado perfeito. Sem problema algum, ela queria salvar um amor por medo de problemas demais criando problemas. O namorado pulou fora.
Guardei aqui na caixa a mensagem de uma leitora que narrava a seguinte saga: ela reclamava que o marido, ao tostar nuggets de frango e queijo no forno, quando os come, os come começando primeiro por aqueles pinguinhos de queijo gratinado que escapam da casquinha. E isso a irritava tanto…
Uma escreveu e me enviou este protesto: “João, acho um porre o namorado que come a bolacha waffles camada por camada, raspando com o dente o recheio…”
Leio um e-mail aqui na tela e esse e-mail encerra com a leitora descrevendo como detesta a risada do marido. Outra aqui vejo agora, perdeu a paciência porque o namorado olha o celular durante a refeição. Tem aquela que se irrita porque ele gosta de transar as duas da manhã, e ela tá com sono. Mas quando ela quer, por volta das 22h, ele está concentrado em qualquer outra coisa.

Ela gosta de carnaval, ele não gosta. Ele ronca, ela tem sono leve. Ela aperta o tubo de pasta pelo meio e ele a critica por isso. Ele rói as unhas, ele só gosta de alho. Ela não bebe, ele não consegue se divertir sem enxugar muitas latinhas e doses. Ele reclama muito. Ele não reclama de nada. Ele é corintiano. Ele não arranja um novo emprego. A mãe dele é chata.
Ela não come cebola e ele acebola tudo. Ele não gosta de sair com os amigos dela. Ele não come carne. Ele deixou crescer o bigode. Ele não gosta de bicicleta. Ele desleixou e está com barriga. Ele não lembrou da data de aniversário. Ele, aliás, não lembra de nenhuma data de aniversário, de bodas, de coisa alguma. Ele não acha importante celebrar os três anos e quatro meses de namoro. Ele dorme virado pra lá.
AS PEQUENAS COISAS SÃO GRANDES COISAS
Meninas, e assim prosseguem os e-mails que chegam, quando eu os filtro aqui na peneira dos motivos pequenos. Ah, meninas, elas não percebem, mas estão percorrendo seus dias numa canoa furadíssima. Insistem. Tudo parece errado, mas como os motivos parecem pequenos, esses motivos não sugerem o grande ato da separação, mas um fiapo de esperança pra recuperar aquilo que não se quer mais. É como aquela sina de eterna insatisfação. É como aquela pessoa que em Roma (ou é em Paris?), sente falta de casa. Mas em casa, sente falta de Paris (ou de Roma?).
Meninas, no amor, um dos grandes desafios, umas das grandes coragens, é assumir quando o amor não é mais amor.
Conheço, vivi e ouvi casais que alongaram o tempo de coexistência pra além do tolerável, 56 minutos do segundo tempo, tornando aquilo que um dia era futuro num presente medonho. O pior disso: feitas as contas, esse período de atrito e paulada tornará o passado, quando os dois eram dois, eram sorriso, eram alegria, numa lembrança de inferno.
Com o tempo, desenvolvi uma campanha silenciosa, diante do espelho, de não estender aquilo que rompeu.
Recebo esses punhados de e-mails e mensagens de gente que quer uma exclamação diante de interrogações vazias. Essas pessoas circundam o lance principal: elas não querem admitir que não amam mais. Não sabem como pular fora. Não entendem o que deu errado e não aceitam que deu errado.
Já escrevi algumas vezes sobre a necessidade de ouvir o espelho, de ouvir aquilo que gritamos dentro da cuca, abafado por temores, inseguranças e sentimentos de posse. Deixar ir ou partir, são dois verbos pouquíssimas vezes conjugados na história amorosa.
Acho um erro.

APRENDER A DIZER ADEUS


Sair de uma relação no tempo certo, com dor – porque há sempre dor num tchau -, mas com a noção de que insistir com razão onde reina a emoção, é engordar um desastre. Muitas amizades, muitas renovações, muitos reinícios nasceriam gordinhos e sorridentes de um fim de amor corajoso, honesto, delicado.
Mas não.
Não sei bem qual é o motivo principal. Talvez a gente precise mesmo de uma coletânea de motivos e de irritações. Pode ser que só deixando à rotina de desgastes a responsabilidade de decidir por nós a gente consiga ver que não dá mais.Enquanto isso, tudo e qualquer coisa viram motivos de enervações.  Quando o outro não é mais um outro, mas somente um conjunto de chateações e irritações.
Meninas, ouçam os seus humores. Ouçam os humores deles. É um barulho miúdo, mas desses que machucam o martelinho, o tímpano e tudo mais. A gente sabe. Quando o nuggets irrita, quando o ronco é intolerável, quando ele relaxou nas roupas, no banho, no controle dos barulhos e gases, quando o casal é amarrado pelo barbante roído, quando viver a dois é uma conveniência, uma comodidade, uma preguiça de encarar a vida sozinho…
Quando a vida é tudo isso e muitas outras pequenices, a vida a dois é uma meia vida.

Faço, antes de ir, uma pequena ressalva: brigar é bom. De vez em quando, por motivos que valham, com educação, com amor. Brigar faz parte. Não tenham medo da boa DR, aquela que surge de vez em quando pela vontade de acertar ponteiros. Mas saibam brigar a boa briga. Saibam brigar pelo que vale. Quando o nuggets convoca uma ONU de sentimentos, o nuggets é mais que o nuggets. Quando o nuggets é motivo, o nuggets não é motivo.
O amor é sertanejo, meninas.
É preciso aprender a dizer adeus.


J. Antônio

Meu nome é J. Antônio e sou um amador. Jogador de futebol amador, jornalista amador e poeta amador. Frequento duas academias: a de Letras e a do bairro. Na última, convivo e suo ao lado de halteres e halterofilistas amadores. E ao lado de meninas, que brincam de fuzilar gordurinhas, todas lindinhas, molhadas e com calça fusô (minha leitora: é 'fusô' ou 'fuseau' o nome da calça? Eu tenho essa dúvida). Mas dizia que sou poeta e malhador. Aos fins de semana, gosto de correr e comer. Sou bruto e macho, mas sensível. Choro escondido – e ó, se um amigo me perguntar, eu nego. Eu nego! Mas sim. Quando a coisa aperta, quando a vergonha afrouxa, ou quando uma de vocês, mulheres, me machuca, eu choro. É assim desde que nasci. Há 30 anos.

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