terça-feira, 16 de outubro de 2012

Você se morde de ciúme ?

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PRIMEIRO ATO
Guilherme ficou desconfiado pela primeira vez quando Kátia começou a mudar o guarda-roupa.
Pouco tempo antes, ela tinha sido demitida do cargo de diretora de uma grande financeira, por isso era natural que sua parceira trocasse terninhos executivos por trajes mais despojados. “Mas aquilo simplesmente não estava certo”, lembra-se Guilherme, que tem 38 anos. Os vestidos colados e provocativos, para serem usados sem sutiã, os saltos altos, as joias em excesso…“É claro que eu notei tudo isso”, diz ele.
Kátia não adotou o visual sensual apenas nas noites especiais em que saía com o marido. Esse era o estilo que ela exibia diariamente, não importava a ocasião. Por mais que ele quisesse manter a cabeça aberta e ser um parceiro confiante, não conseguia parar de se perguntar: “Para quem minha esposa está tentando parecer sexy?”
O medidor de desconfiança de Guilherme disparou quando viu um comentário galanteador no mural do Facebook de Kátia, postado pelo personal trainer dela. Também havia happy hours na loja que ela tinha recém-aberto e noites em que chegava tarde porque estava em reunião com fornecedores. Kátia, que tem quatro filhos e 40 anos, nunca tinha experimentado uma vida tão agitada. As suspeitas de Guilherme o consumiram. “Eu não conseguia dormir nem comer. Eu viajava muito a trabalho e, quando estava longe, pensamentos horrorosos dominavam minha cabeça.”
Da mesma forma como o comportamento da esposa havia mudado, Guilherme também não era mais aquele cara calmo e sereno do começo do relacionamento. “Uma vez, no trabalho, eu dei um murro contra a parede e a atravessei”, conta ele. Eu não agia assim nem quando era adolescente! O meu ciúme estava me corroendo e destruindo.”
Mal necessário
O ciúme é tão velho, tão desconcertante e, com frequência, tão poderoso quanto o próprio amor. “Sim, às vezes, ele é inofensivo, o que é saudável. Quando o sentimento se torna possessivo e obsessivo, ele desgasta a relação e pode se tornar destrutivo”, alerta a psicóloga Jussania Oliveira, de São Paulo. Se não for controlado, pode se tornar perigoso e mesmo mortal. Segundo Martin Daly, psicólogo evolucionário da Universidade McMaster, de Toronto (Canadá), o ciúme é a força por trás da maioria dos casos de violência entre casais no Ocidente, senão no mundo. No entanto, os cientistas acreditam que uma quantidade razoável de ciúme pode, na verdade, ser boa para você. De fato, a maioria concorda que é uma emoção tão natural e necessária quanto a felicidade – ainda que muito mais complexa.
Para deixar claro, o ciúme não é sinônimo de inveja – aquele ressentimento ou descontentamento de querer o que você não conseguiu ou o que não é seu por direito. O ciúme é o que sentimos quando temos medo de perder o amor de alguém ou uma ligação significativa com o companheiro. Uma boa definição é a da antropóloga cultural Jennifer James, ex-professora do departamento de psiquiatria e de ciências do comportamento da Universidade de Washington (EUA). “O ciúme é o medo de você não ter valor e, o que é pior, de que outros sejam preferidos e recompensados mais do que você.” Em outras palavras, o ciúme talvez seja o que alguns primogênitos sintam quando o segundo nasce.
“Sempre existiu a ideia de que, pelo fato de o ciúme ser desagradável e algo que percebemos como uma fraqueza em nós mesmos, deve haver, em algum lugar, pessoas puras que são imunes a ele”, diz Martin Daly. “Mas isso é uma noção simplista e pouco realista. Todo animal que, de um jeito ou de outro, forma pares experimenta ciúme sexual. É claro que entre os humanos sempre vai haver ciúme. Isso é tão previsível quanto o desejo sexual.”

SEGUNDO ATO
Guilherme fez perguntas a Kátia sobre o personal trainer, e ela disse que o marido estava sendo pouco razoável e inseguro
Ele perdeu peso e o sono. A desconfiança só aumentava, já que todos os dias Kátia saía de casa vestida de maneira provocante. Quando percebeu, Guilherme estava fazendo um caminho mais longo ao voltar para casa depois do trabalho para passar pela loja da esposa. Um dia, Kátia chegou em casa sem a aliança e ele simplesmente desmoronou. Ela disse que tinha tirado para experimentar um anel. Mas isso voltou a acontecer mais de uma vez. Guilherme resolveu transferir o software de rastreamento que tinha instalado no computador das crianças para a máquina dele e de Kátia. “Eu estava no ponto em que precisava de respostas que eu tinha medo de receber”, diz ele. “Mas a outra opção era não saber e ficar obcecado, imaginando situações terríveis, que me consumiam.”
Autoconfiança x ciúme
O psicólogo americano Kenneth Levy fez uma pesquisa em cima de um estudo realizado por David Buss, psicólogo
evolucionário, que identificou que as mulheres ficam mais arrasadas com a infidelidade emocional, enquanto a maior parte dos homens considera pior a ideia da própria parceira transando com outro cara. O novo estudo de Levy levou em conta a parcela de homens que tinha reagido à ideia de infidelidade emocional. Para isso ele recrutou cerca de 500 homens e mulheres, acrescentando um componente: dados sobre afeição – o quão seguro ou inseguro cada participante se sentia na relação. Psiquiatras e psicólogos avaliam nossos laços afetivos nos classificando em uma destas três categorias:
1) Pessoa segura, alguém que acredita e sente que seu parceiro é fiel. Homens seguros podem ter um pouco de ciúme de vez em quando, mas conseguem tocar a vida sem viver debaixo de uma nuvem de pânico e neuras;
2) Pessoa insegura, considerada indiferente ou esquiva. Essa é uma característica mais visível no sexo masculino, supostamente em tipos fortes e silenciosos. Um homem com esse perfil tem pouca necessidade de intimidade. Ele valoriza a autonomia e não depende de ninguém, a não ser de si mesmo;
3) Pessoa insegura – o ansioso. Ele é pegajoso, carente, difícil de tranquilizar e, com frequência, tenso, esteja em um relacionamento ou sozinho. Alguém com um laço afetivo inseguro e ansioso provavelmente teve uma infância
marcada por inconstância na afeição.
“Levantei a hipótese de que os homens com laços de afeição seguros ficariam arrasados com a infidelidade emocional da parceira”, diz o psicólogo Kenneth Levy. Ele também supôs que aqueles indiferentes à sua relação se importariam mais com a infidelidade sexual porque, essencialmente, não têm preocupação emocional suficiente para se importar com conceitos como intimidade, muito menos se sentir ameaçados por sua precariedade. Como seria de esperar, Kenneth Levy concluiu que os inseguros e ansiosos ficariam arrasados com qualquer tipo de infidelidade. A pesquisa constatou que ele estava certo nos três contextos. Guilherme se encaixava nesse último perfil.
TERCEIRO ATO
Depois de Guilherme instalar o “software espião”, ele sentiu um alívio momentâneo e, em seguida, mais ciúme. Havia e-mails galanteadores na caixa de entrada de Kátia, mas nenhuma evidência de um um caso.
Ela não retribuiu as cantadas, mas também não disse para o cara cair fora. “Concluí que a única maneira de o nosso casamento ter uma chance seria confrontar Kátia da forma mais racional que eu conseguisse, e mostrar o quão doloroso e prejudicial eu considerava o comportamento dela”, diz Guilherme. Isso significava abrir o jogo quanto à espionagem no computador. Durante a conversa, Kátia disse, novamente, que o marido estava sendo inseguro e que o problema era dele, e não dela. Apesar da vulnerabilidade e ansiedade dele, Kátia persistiu no seu novo estilo de vida.
Acerte na dose e viva bem
Já que o ciúme não nos traz alegria e faz com que a gente se comporte de forma vergonhosa, às vezes destrutiva, é difícil imaginar como essa emoção pode ter qualquer valor de reparação em um relacionamento saudável. Especialistas como David Buss e Kenneth Levy dizem que, se você pode expressar de forma saudável o ciúme, consegue realizar duas importantes missões. Em primeiro lugar, deixa bem claro o que sente pela parceira. “O ciúme muitas vezes acontece em uma ocasião quando você percebe que se importa com essa pessoa mais do que qualquer outra com quem já esteve antes”, diz Bill Callahan, médico militar na Califórnia (EUA), psiquiatra especializado em aconselhamento de casais. Ele argumenta que existe um pouco de verdade no dito popular segundo o qual não sentir ciúme de vez em quando pode significar não se importar com o outro tanto quanto você pensa que se importa. “Admitir o ciúme não é um sinal de fraqueza. É um sinal da capacidade de amar.” Bill diz que, de fato, os casais que têm uma dose responsável, bem-comunicada e bem-administrada de ciúme têm maior probabilidade de manter a relação no longo prazo do que aqueles que nunca sentem nem uma pontada. “Casais interdependentes que continuam a ter ciúme depois de anos e anos de relação, também se mantêm românticos”, comenta o médico John Gottman, psiquiatra de Seattle (EUA)e especializado em relacionamentos. “Eles deixam claro o quanto um é importante para o outro, e isso os torna mais próximos e cúmplices. Eles também têm melhor sexo. E eu me refiro a parceiros que estão juntos por mais de três décadas.”
A segunda missão é usar o ciúme como um termômetro do relacionamento. “Muitos homens têm dificuldade de assumir o ciúme por não quererem demonstrar um sinal de fraqueza”, diz Jussania Oliveira. “Mas a vulnerabilidade é uma ferramenta, uma forma de descobrir quem o parceiro realmente é. Se o casal expressa suas preocupações, ele termina com um vínculo emocional fortalecido. Se a resposta da parceira for: ‘Nossa, você é inseguro e isso é problema seu’, já sabe que talvez esteja na hora de partir para outra”, diz Bill Callahan.
ATO FINAL
O telefone de Guilherme tocou e era a Kátia na linha.
Eles estavam separados havia algumas semanas.
Ela estava no mesmo local onde o marido a pediu em casamento, e disse que não poderia viver sem ele. Kátia jurou naquele momento que voltaria para casa e tentaria resolver as divergências do casal. O ciúme de Guilherme, disse ela, não era apenas problema dele, mas dos dois, e ela estava disposta a fazer concessões, desde que ele fizesse o mesmo. Kátia acabou revelando diversos segredos de infância que eram guardados a sete chaves e que contribuíram para explicar as ações recentes dela – uma infância problemática havia esmagado sua autoestima. Já adulta, se descobriu desesperada pela atenção dos homens. O menor dos elogios era como uma injeção de dopamina. E cada momento de bem-estar ofuscava o fato de que muitos homens poderiam ter outras razões para elogiá-la.
Guilherme seria o último a dizer que a saga do ciúme está completamente esquecida. Mas são águas passadas e, apesar da experiência, ele chegou ao ponto em que consegue admitir que tamanha angústia e sofrimento teve seu valor. “Foi doloroso e traumático. Mas nos levou aonde estamos hoje: casados e felizes. Pode-se dizer que não foi em vão.”
Dome a fera
Quando a mulher dá para ser ciumenta, você precisa ser muito hábil para lidar com a situação. Desative a bomba antes que ela exploda!
Por JULIE STEWART
A CENA Ela notou que você olhoupara uma linda mulher.
EVITE A EXPLOSÃO Não negue. Em vez disso, diga que você estava olhando alguma coisa específica, como
o braço forte da garota. Em seguida, enalteça a parceira dizendo que gosta de braços mais finos, como os dela. “Ao fazer um elogio, você elimina a ameaça”, diz Laura Guerrero, professora de comunicação da Universidade Estadual do Arizona (EUA).
A CENA Você saiu com uma amiga.
EVITE A EXPLOSÃO Resista à vontade de dizer: “Por que você não confia em mim?”. Diga: “É legal saber que você gosta de mim o suficiente para sentir ciúme”. “Depois, planeje algo especial com ela, para mostrar que o relacionamento de vocês é muito diferente do que aquele que você tem com outras mulheres”, aconselha Laura.
A CENA Você fez menção a uma ex.
EVITE A EXPLOSÃO “Diga à garota que existe um motivo para sua ex ser ex, e que agora quem faz parte da sua vida
é só ela”, diz Jeffrey Kaye, psicólogo de San Francisco (EUA).
Matéria publicada na Revista Men’s Health de março de 2012.

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