Sempre que penso nos motivos que uma relação se deteriora olho para os dois lados da moeda. No caso das mudanças pós-casamento, namoro ou sexo, gosto de pensar não só nos motivos óbvios como tédio, cansaço, preguiça emocional, imediatismo, interesse barato ou coisas do gênero.
Nessas horas penso num tipo de postura mental que assumimos quando algo nos interessa, mas se mostra inalcançável ou quando tudo está conquistado e nenhum esforço é necessário.
Sem justificar nada, mas não são apenas os homens que mudam quando conquistam uma mulher.
Pensemos juntos, o que o homem costuma desejar tanto que só uma mulher pode oferecer? Sexo. O que ele faz para obter isso? Paquera, passeia, dá atenção e cede um ouvido amigo. Isso é parte de uma sociedade machista que trata as mulheres como meio para um fim? Sim, triste realidade.
Mas o que dizer do desejo feminino de encontrar um cara para casar? É o mesmo tipo de relação utilitarista de objeto: ele é um meio para um fim, o matrimônio.
Lembro com certo divertimento de quando estava numa balada e uma garota ao dançar comigo chegou com amassos fervorosos e imediatamente me fez uma pergunta sussurrada ao ouvido: “você tem filhos?”. Diante da minha negativa ela respirou aliviada e voltou a me beijar. Nosso envolvimento se estendeu até 3 meses para eu chegar na conclusão de que ela não estava comigo de verdade, mas com um bom partido, um futuro bom marido, menos com o Fred Mattos, aquele cara com uma história pessoal, atributos que iam muito além de ser um potencial bom marido e pai.
Se o homem corteja a mulher até conseguir sexo e depois se vira com sono e dorme, a mulher em alguma medida faz o mesmo com o casamento, afinal conseguiu sua meta. A diferença é que é bonito admitir que quer casar, mas assumir que quer sexo ainda parece ser algo carregado de interesses menores. O fato desagradável é que as duas metas são apenas objetais. Já vi muita guria deixar no seu coração o assento ao seu lado reservado para casar, quem sentasse ali por mais tempo entrava na igreja.
No consultório que atendo já arranquei confissões desajeitadas de mulheres que reconheceram que insistiram em acreditar numa suporta bondade dos seus noivos só porque se sentiam pressionadas internamente e socialmente para casar. Admitiram ainda que depois da gravidez se empenharam menos ainda no casamento e se tornaram críticas, fechadas e irritadas.
Esse tipo de mecanismo, que homens e mulheres não gostam de assumir nem para si mesmos está muitas vezes no plano de fundo dos desinteresses e brigas pós-sexo ou casamento. Ambos saciados em seus desejos ocultos e utilitaristas.
É nobre? Não.
Humano? Sempre.
Proposital? Só para os descarados.
Agradável? Nunca.
Fazemos isso por carência, egoísmo e limitação emocional? Cada um é que pode responder por si mesmo, com muita honestidade.
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