sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Quando você vira “mãe” do namorado, do marido?

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Meninas, fui ao oculista. Já contei pra vocês do meu oculista? É um oculista filosofal. Vejo o sujeito uma vez a cada não sei quantos anos. E toda vez ele me recebe com a mais formidável das familiaridades. Enquanto me empurra não sei quantos colírios e falou de armação para óculos de sol, conta da vida, pergunta da minha. Enfim, é um sujeito com vontade de conversar.
Pois dia desses fui lá bater uma consultinha anual com o doutor. Já encerrando a sessão, com a receita na mão, ouço o silvo do assobio. Era o médico chamando. Ele faz isso toda vez: queria dizer tchau. Mas é um tchau especial. É um tchau todo profundo, todo cheio de significados. Este tchau:
- Vai pela sombra, hein João! Que muito sol faz mal pro olho. E não esquece: o pior cego é aquele de vê, hein, hein?
Pois sim, moças. Foi o que ele disse. E com isso batucando na cuca, esbarrei aqui na caixa de e-mails com o tema de hoje. Uma leitora escreveu:
“João, queria sua opinião. Sempre desconfiei desses casais em que você percebe nitidamente que a mulher é meio mãe do namorado. Sabe como é? É um negócio às vezes sutil e que não tem tanto a ver com o cara ser muito alegre, daqueles que gostam de farra, de encontrar amigo, de futebol. É uma outra coisa. A mulher que assume a função de protetora enquanto o parceiro age como um menino, cheio de vontades e pouca responsabilidade.
O que quero dizer, João, é que acho que estou vivendo isso. Percebo que meu namoro de sete anos se parece muito com uma relação maternal. Tolero o jeitão moleque, não cobro muito pra que ele se firme no emprego. Pago muitas contas. Fui capaz de perdoar até uma traição. E ainda faço um pouco de vista grossa porque sei que meninas flertam com ele. Sou ciumenta. A gente tem uma relacionamento muito bom, de muita parceria, mas muito conturbado também. Enfim, eu não sei bem explicar, mas acho que tenho uma certa ‘superioridade’ dentro do relacionamento, no sentido de que sei que ele depende muito de mim. Ele é inseguro, chora quando passa por dificuldades, mas muito alegre quase o tempo todo, muito carismático. E aí é que tá: tem horas que parece até que tenho um orgulho disso, desse charme dele, como se isso fosse algo que me valorizasse. Uma amiga me alertou: eu estava falando como uma mãe feliz porque seu filho falou mais cedo que o filho de outra.
No fim, sinto que tenho uma imensa vontade de cuidar dele. E fico pensando até que ponto isso é a base do nosso relacionamento, sabe? Quer dizer, difícil de explicar porque são coisas que não podem ser separadas. Mas se eu puder resumir, diria que é um relacionamento um pouco desigual não em amor, mas porque eu estou muito presente em situações em que preciso tolerar algumas bobagens dele, percebe? Ele precisa mais de mim do que eu dele, acho. Mas sem ele, não vivo. Minha pergunta nem é muito uma pergunta.Queria ouvir você falando disso. Mas, se precisar de uma, lá vai: por que a gente faz isso com os homens? Por que é tão irresistível seguir num relacionamento em que às vezes você age um pouco como mãe dele? Pulo fora? Mas e se eu não consigo? Temos futuro?
UM NENÊ COM BARBA
Ah, meninas, meninas. Li essa carta e lembrei do oculista.
A leitora aí de cima vê tudo! Sabe de tudo. E ainda assim, a escuridão…
O que é um homem?
Um bebê de barbas?
Um filhotinho de bigodes?
Um leão sem dente?
Moças, moças, vamos lá, mas vamos com aquela ressalva: não são todos, não sei nem se a maioria, mas são muitos, muitos mesmo, os homens que merecem umas palmadas da vida.
Agora, percebam: não são todas, nem sei se a maioria, mas são muitas de vocês que merecem umas palmadas da vida porque acham que são vocês que devem dar neles as palmadas que eles merecem.
Me faço entender?
Quero dizer o seguinte: existe mesmo, em diversos graus, um componente materno no amor de um casal. Por que existe? Não sei. Mas aposto: porque o homem, em sua programação original, traz uma vontade imensa de ser um bocó, um jeca, um moleque, um filhote. Ele faz de tudo para não dizer aquilo que ele diz de todos os jeitos, o tempo todo: ele quer proteção diante do mundo.
A valentia do homem, meninas, esconde um pavor de tudo.
Quero começar a dizer mil e duas coisas daqui pra baixo. Mas precisaria de um espaço perto do infinito e um tempo que não existe. Como explicar aquilo que vou descobrindo enquanto escrevo? Quando parar? Como dizer o que fez da gente, a fatia mais tosca da humanidade, o que somos: uma fatia tosca?
Não sei.
Mas sei que, num resumo do infinito, o negócio básico é o seguinte: o homem esconde em bravatas a profunda insegurança que leva por dentro. Uma insegurança sobre suas próprias capacidades. Percebem?
Entender isso é entender um pouco o que é um namorado, um marido.
Em maior ou menor grau, isso está sempre presente nele: um pedido de proteção.
"O Homem que amava as mulheres" (1976), de François Truffaut, narra as peripécias de Bertrand Moranedas, das frustrações de infância pela mãe ausente às incontáveis conquistas femininas
O HOMEM A CADA MANHÃ
O homem, meninas, quando o sol nasce e os olhos acordam, ele exige do espelho um reflexo de herói. Mesmo que a barriga sugira um barril de chope, mesmo que a cabeça descampada convide ao pouso dos mosquitos, o homem, a cada manhã, conta as maiores lorotas a si mesmo sobre si mesmo.
Vocês precisam ver o que é a reunião franca entre um grupo de amigos: é mentira pra tudo que é lado. Ele sempre fez o gol que o Pelé não fez. Ele sempre transou de um jeito que a mocinha lá nunca vai esquecer. Ele nunca apanha. Ele ganha todas as discussões na empresa. Ele ganha mais dinheiro do que ganha. Ele tem razão até quando fica doente. Ou quando chove.
Moças, o homem não resiste ao menor espirro. Da unha ao cocuruto, é um modelo das fragilidades humanas. Acontece que, por uma sabedoria natural, por um resquício de bom instinto, o homem, no fundo, mas num fundo bem raso, sabe que ele não dá pé. Ele não tolera a completa cambetice de sua existência. Ele entende sem entender que é um indivíduo capaz de ser enganado pelo mais fajuto dos escroques. É um romântico no sentido de que aspira aos grandes feitos, que ele deixará sempre para amanhã. É ingênuo, assustado e guarda na agressividade, no gracejo e na lorota, o fato de que tudo isso se torna ainda mais grave porque ele tem com quem se comprar: você.
Sim, moças. Vocês. O homem vê, repara, inveja as qualidade que ele vê em vocês. Não conheço um homem que não sinta, no fundo, uma admiração completa por esse jeito mais tranquilo, menos aguerrido, menos sofrido de lidar com os cadarços. Ah, meninas, o que é viver num mundo que amarra ess cadarço traquiníssimo no tênis humano?
Você caem com mais graça, levantam com menos vergonha, tudo porque sabem que às vezes, tudo bem chorar, tudo bem errar. Sabem que falar e ouvir é bom.
Me mostrem um grande homem, um excelente namorado, um marido de sonhos, e eu lhes devolverei três ou quatro características femininas evidentes nele. Pepeu Gomes, esse grande homem…
DE GATINHAS
Moças, o homem nasce fadado a ser a criança eterna. Mas ele pode crescer. E isso ele fará sozinho, com pouca ajuda. Quem deposita no amor, ou no seu papel num casal, a solução para um sujeito que ainda engatinha, está procurando um sujeito que engatinha, não um amor.
Mas desconfio que essa fragilidade masculina – e não saberia muito bem dizer por que isso acontece assim – é um afrodisíaco dos mais potentes. O homem se torna irresistível para algumas mulheres quanto mais o menino interior dele estiver pulando, chutando latinhas e gritando. Porque vocês, moças, também dispões de uma ou duas fragilidades. E uma delas é essa imensa vontade de cuidar.
A leitora aí do alto falou em instinto maternal. Falou bem. Deve ser isso mesmo: a vontade de ninar aquela alma pobre e esfarrapada.
Há um perigo nisso.
O AMOR QUANDO É DOENTIO NÃO É AMOR
O que quero dizer, para resumir o caso que inicia este texto, é isto:
Cuidado. Cuidado mesmo. Duas pessoas juntas sempre serão a história e altos e baixos dos dois lados. Serão a história de querer bem ao outro, de se enfadar com o outro, de ter desejos que vão e que voltam, de planejar juntos, de fazer esses planos darem certo juntos.
Mas, percebam: juntos não quer dizer juntos. Ou melhor: juntos não quer dizer juntos de qualquer jeito ou por qualquer motivo. O grande amor é aquele em que a gente percebe quando o outro está baixo e quando o outro percebe que a gente está baixo.
A mulher que assume o namorado e o namorado que se deixa assumir não amam. Porque o amor, meninas, ele é muito parecido com uma doença, mas não é uma.
Uma doença é uma doença. E essa gente que vive o relacionamento maternal, essa gente que percebe no parceiro alguém a ser cuidado, esse amor em que tudo deve ser tolerado, em que não há razão, em que os dois seguem juntos porque não conseguem estar separados, isso não é amor. É doença.
O amor, meninas, é um porque sim. É ficar junto porque ficar junto é ficar bem.
É ficar bem porque vocês querem ficar bem, ainda que às vezes não dê.
E porque ficar separado é triste, mas seguir lado a lado, passo a passo, na mesma altura, isso é uma alegria sem igual.
Porque não não é resposta.
Porque sim é.


J. Antônio

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