segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A AUTOMUTILAÇÃO COMO DEPENDÊNCIA

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De acordo com Armando R. Favazza*, a automutilação pode ser dividida em duas principais categorias:

1) Automutilação Culturalmente Sancionada: relacionada a rituais e práticas tribais com o objetivo de promover a cura, a espiritualidade e a ordem social e; 

2) Automutilação Desviante/Patológica: classificada em três categorias observáveis baseadas no nível de destruição do tecido e a média e padrão do comportamento. São elas: 

a) Maior: comumente associada à psicose e intoxicação aguda. Geralmente, são atos severos e infrequentes de enucleação do olho, castração e amputação de algum membro como resposta a alucinações de cunho religioso ou sexual; 


b) Estereotípica: atos repetitivos e rítmicos de bater a cabeça, morder os lábios e pressionar o globo ocular, predominantes em pessoas com retardo mental ou com Psicose Aguda, Esquizofrenia, Autismo, Síndrome de Lesch-Nyhan, Síndrome de deLange, Distúrbio de Rett, Neuroacantose e Síndrome de Tourette e; 


c) Moderada/Superficial: é o tipo mais comum. Sem ritmo, com pouco dano tecidual e menor mortalidade. As formas de se mutilar podem ser: cortar, queimar, arranhar, enfiar agulhas ou cavar desenhos, palavras e símbolos na pele, mexer em feridas que estão em cicatrização, quebrar ossos, socar-se, morder as unhas e arrancar os cabelos. Em muitos casos, o uso de instrumentos como fósforos, faca, lâminas de barbear, estilete ajudam no ato. De acordo com Tracy Alderman**, neste tipo de automutilação o indivíduo não perde contato com a realidade e os atos acontecem por razões emocionais ou psicológicas. A automutilação moderada/superficial é ainda subdividida em três tipos: 

i) Compulsiva: ocorrem várias vezes por dia de forma repetitiva e ritualística. Fazem parte deste tipo: arrancar cabelos e condições psicodermatológicas como mexer na pele compulsivamente para tentar remover manchas; 

ii) Episódica: como o próprio nome diz, ocorre de vez em quando e em muitas situações, já que o intuito é conseguir uma pausa de pensamentos e emoções angustiantes, sentir-se melhor e tentar ganhar autocontrole e; 

iii) Repetitiva: aqui existe um aumento no número dos episódios automutilativos se comparado à Automutilação Episódica e o ato de se machucar vira uma preocupação na vida do indivíduo, tornando-se uma dependência. 


É este o tipo de Automutilação que será discutido aqui:

De acordo com Alderman, dentre as diversas formas de Automutilação Moderada/Superficial Repetitiva, a mais comum é o self-cutting (cortar-se). Os cortes são feitos, na maioria dos casos, em partes do corpo que podem ser facilmente acessadas e escondidas: braços, pulsos, pernas e peito. Além disso, nestas áreas, os cortes podem ser explicados sem dificuldades e sem comprometimento: “eu caí”, “o gato me arranhou”, são explicações dadas bastante comuns. Outras pessoas utilizam o abdome, rosto, pescoço, seios e órgãos genitais. Em geral, o self-cutting segue um ritual em termos de ambiente, instrumento e/ou procedimento. O ambiente escolhido pela maioria das pessoas é a sua própria casa, já que ela oferece a privacidade e a reclusão desejadas, além de ser um local que propicia sentimentos de isolamento e solidão - sentimentos que ajudam a precipitar o ato. Os instrumentos mais utilizados para cortar-se são: faca, lâmina de barbear, pedaço de vidro e objetos afiados. O procedimento inclui preparar o ambiente e o instrumento para então engajar na atividade propriamente dita. Também pode haver um ritual após o ato: cuidar da ferida com banhos, pomadas e esparadrapos e documentar o ato através de fotos e diários.


No tratamento da automutilação, o mais importante é a terapia cognitivo-comportamental, que permite descobrir e trabalhar a origem do problema.

Independentemente de não se saber se quem sofre mais com a auto-mutilação (o cutting) são os rapazes ou as raparigas, certo é que as grandes vítimas se encontram, geralmente, na fase da adolescência, a idade das emoções.


O tratamento da automutilação visa facultar formas do doente ultrapassar os momentos da sua muita angústia de uma maneira mais adequada e construtiva, concedendo-lhe o apoio técnico de que ele precisa para que, ele próprio, seja capaz de descortinar alternativas viáveis para uma vida saudável e feliz.

A ajuda profissional jamais suprime a responsabilidade da pessoa por ela própria, pela condução da sua existência e pela sua felicidade!

Esta responsabilização é o que, a curto prazo, lhe devolverá a tão ansiada auto-estima.

No tratamento da automutilação, o doente beneficia de um ouvido especializado que subsidia uma reflexão acerca do seu sentir e agir, auxiliando a estruturação de respostas equilibradas a episódios mais penosos do próprio viver.

A dor emocional torna-se mais tolerável quando se lhe dá um nome a essa emoção.

O desafio consiste em delimitar a sua fronteira sem que a pessoa se zangue irremediavelmente com ela mesma e/ou com o mundo que a rodeia.

A conspiração do silêncio alimenta a ignorância e é terrível no que toca a identificar os sinais que poderiam evitar a auto-mutilação e o suicídio.

Esta, por seu lado, cultiva a inaptidão para ajudar. É sempre mais fácil negar, desvalorizar e silenciar.

Os incômodos resultantes de uma tomada de consciência do problema são, amiúde, rejeitados, até no subconsciente.

Apoiar, pelo contrário, pressupõe abertura e a capacidade de valorizar sintomas – como um decréscimo evidente do desempenho escolar e o isolamento social – e de falar sobre o assunto.

É motivo de orgulho e de descanso para os pais que um jovem não goste de sair à noite, porque estará afastado de um ambiente em que se bebe, fuma e até pode consumir outro tipo de substâncias, para além de não arranjar problemas, mas a recusa do convívio com gente da sua idade e a falta de amigos podem indiciar que algo não está bem.

Quando se vem a descobrir o que não anda a correr da melhor forma, o indivíduo está já, muitas vezes, obcecado pela tortura do seu corpo.

A auto-mutilação pode aparecer imiscuída com sintomas de depressão e de fobia social.

Na sua gênese, está um sofrimento contínuo e um desespero persistente.

Há todo um historial de tristeza intensa e prolongada, descrença absoluta em si, nos outros e na vida, perturbações do sono e do apetite, culpa e, por vezes, ideias de suicídio expressas em palavras.

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