Nós seres humanos somos vítimas das nossas próprias armadilhas. Temos muito medo de perder aquilo que amamos, ou, muitas vezes, aquilo que pensamos amar. Criamos expectativas, aprisionamos e projetamos nossos desejos no outro. É parte das nossas inseguranças afetivas sermos um pouco possessivos. Tememos ser trocados, substituídos, abandonados. Os tempos atuais colaboram ainda mais com esse sentimento tão cultivado.
O mundo cheio de facilidades e possibilidades trouxe também uma fragilidade muito grande nos relacionamentos. Em outros tempos eles eram duradouros, uma vez que o universo das pessoas era muito menor, não existia facilidade de locomoção ou contato com pessoas novas e diferentes, por exemplo. Assim, lutar para manter um relacionamento com quem já tínhamos e conhecíamos era tão viável quanto ligar o computador e conhecer o mundo através de uma tela.
Nossa insegurança quanto a fidelidade do outro é tão grande que acabamos por tentar prendê-lo em nossas expectativas. Mergulhamos profundamente no que esperamos dele e aos poucos vamos perdendo a capacidade de viver, de sonhar, de ser feliz... Porque um dia nos amarramos numa ilusão e permitimos que tal ilusão se tornasse o centro da nossa vida.
Confundimos amor com carência e desejo de ter. Esquecemos que a fidelidade não precisa ser cobrada, é respeito e obrigação de todo mundo que realmente deseja construir uma vida a dois.
É válido atentarmos para os amores rápidos, à primeira vista. Corremos o risco de nos apaixonar não pelo que o outro é, mas por aquilo que gostaríamos que ele fosse. O amor precisa ser processual, aquele que vai sendo descoberto à medida que defeitos e qualidades são colocados à mesa. Somos seres frágeis e temos inúmeros defeitos que não se apresentam nos primeiros momentos juntos.
A recuperação de todo sofrimento que alimentamos chega quando reconhecemos que talvez não estamos perdendo tanto em deixar o outro ir, a pessoa que acreditávamos amar pode nunca ter existido, foi simplesmente uma projeção criada por nós. O amor de verdade nos proporciona uma facilidade de libertar o outro. Pessoas vão e vêm... Nós não somos os únicos a perder alguém e nem seremos os últimos.
Um ótimo texto
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