domingo, 13 de outubro de 2013

Carta à Fran, a menina massacrada por um vídeo de celular

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“Fran,
Meu celular acabou de apitar avisando uma mensagem nova no Whatsapp. Era um vídeo de 13 segundos em que você aparece fazendo um boquete e perguntando ao câmera: “quer meu c*zinho apertadinho?” – fazendo um sinal de OK. Eu deveria ter achado graça, caído na gargalhada e compartilhado com outros contatos. Porque, afinal, é só mais uma “vagabunda que se deixou filmar” e cujas imagens acabaram vazando para milhares (milhões?) de desconhecidos. Como se nenhuma moça “direita” pudesse chupar um pau ou ficar de quatro. Como se ninguém falasse baixarias a dois. Como se fosse absurdo realizar a fantasia de ser filmada enquanto transa.


Lamento muito por todos os comentários grotescos e ofensivos que têm circulado na internet. Eles foram feitos pelas mesmas pessoas que acreditam que, se estava de saia curta na rua, pediu para ser estuprada. Tipo: não queria ser exposta, então não deveria ter se deixado filmar. É uma lógica machista que inverte os valores. Você é puta – e não o cara, um mau-caráter. Querida, nossa sociedade está mergulhada nos próprios pudores. Não há nada de errado no que você fez. A cretinice da história toda pertence somente àquele(a) que primeiro repassou o vídeo de um celular privado para uma rede infinitamente invisível.
Espero que você tenha visto a página Apoio à Fran, já com quase 2 mil apoiadores no Facebook: “ela é a vítima”. Sabe, em 2006, uma jornalista que eu venero contou uma história parecida com a sua. Fotos de uma garota de 20 anos transando com dois caras foram parar no Orkut. Ela e a família precisaram mudar de cidade para recomeçar a vida publicamente destroçada. Eu desejo que você consiga se perdoar. Posso imaginar a culpa e a vergonha que você está sentindo. E torço para que os leitores dessa carta sejam mais humanos e menos hipócritas do que eu tenho visto por aí. A foto desse post é o abraço que eu gostaria de te dar.
Nathalia Ziemkiewicz, jornalista e autora do site Pimentaria”.
UPTADE: Uma amiga de Fran me contou que ela só sai de casa para ir aos advogados e à delegacia. Está em pânico, morre de medo de ser reconhecida.

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