quarta-feira, 7 de maio de 2014

Co-dependência

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Muito se tem dito a respeito dos males que a dependência do álcool e outras drogas causam ao seu portador. E também dos efeitos deletérios que esta situação traz para a família e demais pessoas afetivamente ligadas.
        Na década de 1970, as esposas de frequentadores dos Alcoólicos Anônimos (AA) começaram a realizar reuniões paralelas às dos maridos, para conversarem sobre seus problemas em comum.  Em 1981 Wesheider introduziu o termo Co-dependência para designar “a  obsessão familiar sobre o comportamento e bem-estar do dependente, em que o eixo da organização familiar passa a ser o controle do consumo alcoólico”.
          Segundo o psiquiatra Jorge Jaber, fundador da Associação dos Familiares de Dependentes Químicos, “são dependências paralelas. Da mesma forma que o dependente desenvolve uma relação com a droga que não consegue controlar, o co-dependente estabelece uma relação de sujeição com o outro que não consegue controlar.”
         Ana Paula de Oliveira escreveu em 2004 na Folha de São Paulo:”Co-dependência é depender da dependência do outro em relação a si mesmo. É uma via de mão dupla em que as partes dependem umas das outras.”
         Maria Aparecida Junqueira Zampieri, em seu livro “Co-dependência: o transtorno e a intervenção em rede” coloca que,nesse movimento, o familiar começa como vítima e se torna herói: “sou coitado, mas veja como sou forte e o que eu tenho que suportar”.É um heroísmo complicado e uma necessidade dolorida de ajudar os outros. Essa autora amplia o conceito de co-dependência para um conjunto de comportamentos mal-adaptativos e compulsivos, aprendidos na convivência familiar, a fim de sobreviver ao se encontrarem sob forte estresse ou intensa e prolongada dor. Vários motivos podem levar a essa situação, como doenças crônicas, morte. Diante deles, arranjos diversos podem ser adotados pelos familiares para atravessar a situação crítica. Se mantidos os estressores, os comportamentos podem se cronificar em configurações inadequadas,  incompatíveis com a demanda atual. Os prejuízos encontrados nos dependentes vão ocorrer também com os co-dependentes, que adoecem junto. É comum que familiares de pacientes crônicos desenvolvam uma série de transtornos relacionados ao estresse:dor de cabeça, gastrite, depressão, transtornos de ansiedade.
          O co-dependente acredita que sua felicidade depende da pessoa que tenta ajudar e assim se torna dependente dele emocionalmente. Procurando ajudá-lo pode se tornar excessivamente permissivo, tolerante e compreensivo com os abusos do outro. Outro lado da mesma moeda, pode ser, em outros momentos,excessivamente controlador, perfeccionista, autoritário. Em ambos os casos, coloca as necessidades do outro acima de suas próprias. Ainda que a intenção seja ajudar, acaba reforçando o comportamento patológico do outro.
          Muitas dessas pessoas descendem de lares disfuncionais ou abusivos, onde não tiveram suas necessidades primárias satisfeitas. Assumiram muito cedo o papel de cuidadores pois os adultos que deveriam se ocupar delas estavam incapacitados por suas patologias de atuarem como tal. A consequência acaba sendo a negligência dos cuidados consigo mesmas, priorizando sua atenção no cuidado  das necessidades das pessoas com quem mantêm as relações afetivas mais próximas. Buscam relacionamentos com pessoas difíceis, para poderem se sentir importantes, indispensáveis. “O que seria desse seu marido se não fosse você?”Acabam construindo uma identidade de cuidadores sacrificados e se ressentem quando não se sentem devidamente reconhecidos como tal.
                    Grupos de ajuda mútua são importantes fontes de apoio. Os  Co-dependentes Anônimos (CODA) procuram “tratar-se, apoiar-se e compartilhar suas experiências de auto-descobrimento, aprendendo a amar a si mesmos.” Frequentadores  se percebem como controladores compulsivos que buscam relacionamentos sofridos. Passam a se definir como homens e mulheres que desejam desenvolver relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios. Buscam cada dia ser mais honestos consigo mesmos, acerca de suas histórias pessoais e comportamento.

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