Foi um erro ter te conhecido...

As pessoas deveriam vir com uma etiqueta de risco ou aviso ou qualquer coisa que anunciasse o seu grau de perigo caso a gente se aproxime delas. Nunca entendi o fato de que pessoas comprometidas não deixem isso bem claro quando por um azar, entram em nossas vidas. Entenda 'nossas vidas' como sendo nós, mulheres solteiras, livres, felizes e no meu caso, dramática. A grande maioria dessas pessoas se quer usa uma aliança. Esqueci em casa, é o que eu ouço por ai.

Estou falando isso porque mais uma vez me encontro presa em meus próprios pensamentos tentando não me punir pela milésima vez por ter me comportado feito uma idiota. É que cá entre nós, ele era basicamente o tipo de homem milagrosamente irresistível. Aquele com a altura ideal, o peso ideal, o comportamento ideal, o sorriso ideal...enfim, apenas uma coisa fora do normal, o que neste caso, justifica tudo: É casado.

Nos conhecemos no estacionamento do supermercado próximo à minha casa há uns três meses atrás, quando ia para o meu carro com algumas sacolas na mão e desastradamente me esbarrei nele, deixando algumas delas caírem no chão. Minutos depois estávamos trocando número de celular e alguns dias após, eu estava me apressando no quarto à procura de uma roupa ideal pra sairmos pra jantar - à convite dele, é claro. Uma roupa comportada mas ao mesmo tempo, sensual (...). 

- Você está linda! - Me elogiou assim que entrei em seu carro... O primeiro elogio de muitos outros que viriam pela frente. 

Foi assim que ele entrou em minha vida. Sem pedir licença, sem pedir permissão, sem nem ao menos dizer que era casado, para pelo menos, me dar o direito de poder escolher o que fazer a respeito. No entanto, era cavalheiro, gentil, atencioso e lindo. Todo o tempo. Me fazendo propositalmente fechar os olhos e consequentemente, ignorar os sinais de que ele era um homem comprometido. Como por exemplo quando passamos a nos ver apenas em dias de semana - os finais de semana ele estava sempre ocupado demais. 

E quando eu ligava e o celular dele dava sempre caixa postal, principalmente em determinados momentos do dia. E quando descaradamente ele desmarcava algum encontro nosso em cima da hora. Com o pretexto de que estava no trânsito e não chegaria num horário adequado. Coisas bobas, mas que hoje completam exatamente todo o quebra-cabeça.

O que mais me deixa perplexa é que em nenhum momento desde que nos conhecemos há três meses atrás, ele deu qualquer sinal claro de que era casado. Nem se quer usava a bendita aliança. Mas ontem não teve jeito. Ontem ele me perdeu definitivamente. Desmarcou em cima da hora o nosso jantar que há dias tínhamos combinado, então eu resolvi sair com uma amiga que há tempos não via para comer alguma coisa e conversar e coincidentemente, para o azar dele, fomos ao mesmo restaurante que ele e a sua esposa estavam. Sei que aquela mulher era sua esposa porque ontem ele usava a aliança. Ontem ele fez questão de 'não esquecer' de usar.

Me viu e abaixou a cabeça, fingiu que não me conhecia. Acariciou a mão dela em um gesto delicado registrando em minha memória o momento exato em que descobri impiedosamente quem ele era. Quem eu jamais suspeitaria que fosse - um homem casado.

Embora eu tenha me sentido no direito de falar horrores na cara dele e contar à sua esposa quem era de fato o seu marido, não fiz nada. Terminei o jantar com a minha amiga e voltei para casa. Triste, quase arrasada... Simplesmente não existe nada que eu possa fazer...

Desde ontem a noite meu telefone já tocou umas cinquenta vezes e não atendi nenhuma vez. Atender uma ligação dele agora, é algo tão inútil quanto pensar ou acreditar na possibilidade de que ele largaria ela para ficar comigo. Seria muita ingenuidade da minha parte.

O que mais me entristece é que por mais que eu minta para mim mesma, não posso negar que está doendo. Saber que ele jamais será meu, está doendo.  E apesar de tudo que vivemos juntos em três meses, não signifiquei nada para ele todo o tempo. Isso faz doer mais ainda. Mas não me resta outra alternativa, senão,  secar essas lágrimas e seguir em frente.

E definitivamente, esquecer que já o conheci um dia...

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