quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Como superar a mágoa em relação a um ex? Tem uma hora certa para nunca mais pensar nele?

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Meninas, dia desses, num desses acasos e numa dessas esquinas, esbarrei com um amigo de longeva data e pouco contato recente.
Foi um reencontro daqueles. Teve abraço, teve mais de um “oi”, teve um como vai, teve uma atualização frenética daquilo que fizemos nos últimos anos e depois teve um silêncio. Eu não sei bem o que foi, mas falando ali, ouvindo ali, foi dando um vazio imenso, uma saudade estranha, um não sei o que de tempo perdido.
Não lembro onde foi, mas lembro que uma vez alguém citou uma frase do Gilberto Gil falando sobre o tempo e as amizades. Dizia o Gil, acho, que ele sente mais saudade quando revê um amigo querido do que quando está longe. Como se ao trombá-lo novamente, com a alegria do reencontro, percebesse o quanto de tempo perdeu longe daquele sujeito capaz de animar o batuque do coração. Como se, de repente, a gente se desse conta do quanto abre mão a todo segundo, seja num dia perfeito na praia, seja num dia horrendo, aboletado no sofá. Cada segundo é uma renúncia.
Pois bem.
Pensei nisso ao reencontrar um amigo e ao ler uma série de e-mails de vocês.
TUDO BEM SENTIR ÓDIO?
Um punhado de meninas me escreve relatando o fim de um amor. Mais do que isso. Elas me escrevem falando do fim de um amor e do nascimento de um rancor. Querem entender como lidar com o surgimento daquele sentimento que percorre a veia e corrói o espírito: a raiva, o desacordo consigo mesma quando o amor esfarela, quando o futuro a dois vira um passado de arrependimento.
Algumas me perguntam o que fazer em relação aos amigos do casal: como lidar com a partilha? Sobre esse espólio, escreverei outro dia.
Mas, essencialmente, elas querem saber como lidar com essa raiva que a gente guarda do ex quando a ruptura é triste e feia.
Elas me perguntam se tudo bem sentir ódio. Eles me questionam se há alguma fórmula pra fazer passar? Elas querem saber se devem procurar, falar e brigar com o sujeito mais uma vez?
Querem saber como lidar.
E são tantos e tão variados os casos que, não sei…
Acho que a resposta é uma, nenhuma e cem mil…


ABRAÇAR A DOR
Meninas, acho que quando o amor acaba, o rancor surge. Maior ou menor. Mas surge. O rancor, esse primo do desencanto.
Mas acho que quando o rancor surge, é preciso abraçar o rancor. Mas um abraço meio informal.
É preciso sentir a dor, deixar ela assumir um pouco o controle, mas não todo.
Procurar o ex, depois da conversa final, é procurar um fantasma, uma pessoa que já não existe.
Se o amor acabou em dor, buscar mais dor é buscar mais dor.
Acho que uma última conversa e distância são os remédios possíveis.
Acho que deixar o tempo correr é a vacina.
Acho que é aceitar que a dor vai e volta, que é mais forte, que é mais fraca, que depende…
Acho que o mundo é essa coisa enorme, e a gente passa por ele numa correria imensa, e que o final é aquela coisa lá, igual para todos.
E penso que viver sob as asas daquilo que não foi é viver um pouco menos.
A vida, moças, é uma banalidade olímpica e maravilhosa.
A vida, quando a gente repara bem nos detalhes, a vida é banal. E sabê-la banal é a salvação de tudo, no fim.
A vida é triste e é ótima.
A vida é imensa e minúscula.
A vida é um não sei o quê e a vida é banal.
É banal porque você pensa no especial de tudo, todos e qualquer coisa.
A mínima coisa se torna especial. E a gente vê que dar essa importância toda às mágoas passadas é uma batatada, uma bobagem.
Mas mesmo essa mágoa é vida, por isso importante, veja só.
Quem ama vive, mas quem odeia também vive.
DAR ADEUS À DOR
Quando a gente pensa demais na morte, e vai cavando, vencendo as barreiras que a cuca impõe pra deixar a gente longe dessa sensação de apagamento; quando a gente chega o mais fundo que pode e pensa que expiar é apagar, é simplesmente não ser, é um nada, você começa a ouvir os barulhos ao seu lado, a prestar atenção no mínimo troço, e vê como o mundo é grande em suas pequenices. Você um dia morrerá e o semáforo, no segundo seguinte, continuará ficando verde, amarelo e vermelho. Um passarinho vai sujar a camisa de um transeunte lá na rua. Pães serão assados, uma moto vai fazer barulho, o amolador de faca vai gritar o seu mote, um casal vai brigar, um casal vai se conhecer e você será uma lembrança minguando em que for de lembrar.
Um dia, apagaremos de vez.
E é assim que eu gosto de pensar nas mágoas: elas existem, elas fazem parte, elas são importantes porque elas também provam que a gente vive. Mas elas são tão grandes quanto o passarinho sujando uma camiseta branca lá na rua e um pão sendo assado. A vida acaba e é preciso escolher o que fazer, o que ver, que camisa usar a cada dia, nos poucos que a gente têm.
Mágoa existe, mas viver a mágoa é viver um pedaço só. Negar a mágoa é deixar de viver um pedaço. Não briguem com aquilo que é. Não engordem aquilo que já foi.
Sentir a mágoa sem culpa. Deixar a mágoa ir sem culpa.
No fim, um dia, novos passarinhos, camisetas brancas, pães, motos, mágoas e pessoas surgirão. Seremos uma lembrança. Por uns tempos. Até que não seremos mais nada.


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